sábado, 23 de dezembro de 2017

EU QUERO SER FELIZ


Hoje, vou deixar o ontem para trás. Vou fazer tudo diferente; vou encantar quem passa e vou dizer para mim mesmo que sou mais um igual a todas as pessoas contentes.
Hoje, vou ser feliz, não vou mais quebrar o nariz com brigas e porfias que nada me acrescentam. Quero ter um dia de sonho e uma encantada manhã ensolarada cheia melodias de aves silvestres.
Hoje, eu sei o que ontem não sabia, sinto o que não sentia, e que meu rosto enrugou-se no inverno escuro do ano passado.
Hoje, meu coração não salta mais quando me deito na cama; estou definitivamente equilibrado como os dois pratos de uma balança a sustentar o mesmo quilo.
Hoje, entendo que minhas escolhas foram coalhas que nem a gata que crio. Sou, sei eu, um fardo no mundo a queimar gasolina nas estradas deste sertão.
Mesmo assim, insisto em ser feliz; em ir tirar água no chafariz da cancela com a moça bela que a serra me deu. Ou em acreditar que posso ser melhor apesar do ontem que me pesa como um saco de cimento nas costas.
Oh, consciência por que me acusas?
Eu sou um homem que só quer viver!
Sou um peregrino que deseja um rumo que tenha um destino, um lugar para ficar.
Hoje, eu espero o que anelo de chinelos na mão abraçado com meu irmão que não via há séculos.
Hoje, descalço passeio no asfalto quente das ruas e avenidas. Cobiço toda moça dengosa e destilo minha prosa como bebida rara.
Hoje, eu trago a mim mesmo para cá. Faço de mim um novo cara; uma nova face a sonhar cheia de emoção, contudo, o ar rarefeito, a luz solar, e o calor do dia me dizem do tempo em que eu sofria, o tempo de meus defeitos, os dias que nunca passam, uma estrada num precipício sem proteção.
Hoje, eu digo hoje. No entanto, o ontem me ensinou a dizê-lo, o ontem me deu o fazê-lo, o ontem também é coisa de hoje; é momento que não passa, é história que se conta, é piada com ou sem graça, mas, ele nunca disfarça como o hoje. O hoje é sempre mentiroso, muito mais que o ontem.
Hoje, eu minto descaradamente para meu vizinho quando digo “bom dia”. Hoje eu estou preparado para o amanhã.
Sim, talvez a morte seja mais sincera do que o ontem e o hoje. Talvez a morte seja mais verdadeira de que minha franqueza.
Ai, deste homem tão medíocre que sou, tão confuso e perdido entre faces que se diluem nas multidões!
Ai, de mim que não sei quando sou, nem o que sou, ou quando serei.
Mas, mais uma vez insisto: Eu quero ser feliz!