quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A CALÇADA DE PEDAÇOS DE OUTRAS CALÇADAS

A CALÇADA DE PEDAÇOS DE OUTRAS CALÇADAS


Ele acreditava em seu mundo; seu mundo, também esperava por ele.
Ele sempre creu que as coisas funcionam;
“Elas são como são”; mas, seus sonhos diziam outra coisa.
Ele andava acordado em seu mundo durante o dia.
À noite, uma surpresa esperada: “As pessoas são assim”.
Os homens tiram suas máscaras no escuro, pois a verdade não tem seguro.
Uma chaminé que alivia o incêndio de dentro.
Uma caverna que acorrenta crianças e dragões.
Um pedra quente de noite, e fria de dia.
Em teu seio se forma a próxima geração.
Em teu sonho os outros terão os seus.
São signos e sentidos do lado de fora.
Mas, cá dentro alguém mora?
Esta é uma eterna questão.

O logos não merece nenhum respeito.
Ele sempre disse errado do torto sem jeito.
O mundo é modelo, matéria e repetição.
Mas, minha dentadura velha, também diz: “O novo já foi velho, e o velho pode tornar-se novo novamente”. Pois, o movimento é permanente enquanto durem os sonhos. Enquanto isso, nas rachaduras destas estruturas vemos as mãos de gente; sim, a verdade é diferente; a diferença desmente esta crença de Zeus; e os homens se tornam sapos, ou ebós arriados na encruzilhada.

O homem foi criança. O sonho está com ele sem canseira desde a pisada primeira, até o por do sol, na pisada derradeira: Sonhar é criar mundos, é encher o céu de estrelas. E o velho inquilino da casa solitária resmunga sem cessar. Ele é o soldado, à porta, que segura o fuzil sem os olhos piscar. Ele está no espaço como madeira, carne, plástico, e aço. Este espaço é revelação, e o tempo, ah, tempo, uma velha caduca falando sozinha. O tempo não é dono de nada, é apenas uma piada dos padres depois da missa.

Tu murcharás como as flores do campo!
Tu passarás como os dias passam!
E os nossos sonhos cessarão no óbito até que tu aprendas a contar os teus ossos!

Os homens renascem a cada dia nas calçadas de seus vizinhos.
Seus caminhos, seus trilhos se misturam a uma fala incessante em torno da terra!
Eu e você somos a calçada de pedaços de outras calçadas. E não reclame quando passarem por cima de ti; é assim que caminha cada mundo feito pelos filhos da savana. Este é o maldito e amado outro.
Odeio-te de dia, entretanto, de noite, sem espanto estamos em núpcias.
Somos dependentes declarados; inimigos amaldiçoados, e amantes apaixonados.
Somos escravos sem correntes de ferro ou bolas de aço.
Teu olhar me redime ou me condena.
Tua sentença me é dada durante a madrugada.
Eles andaram juntos e se misturaram a multidão...