sábado, 25 de março de 2017

PROMESSAS

– Nosso amor vai ser tão lindo.

– Dar-te-ei as estrelas se comigo ficares.
– Então, serei seu céu à noite e tu me serás o sol de dia.
– O frio não te será tormento. Eu prometo.
– Nem o calor o teu sofrimento. Serei a água fria a te refrescar no cair do dia.
– Somos almas gêmeas! Somos a síntese de nossas fibras!
– Eu sou para ti. Disso eu sei.
– O mesmo, digo eu, amada pomba! Voarei ao teu encontro no raiar da aurora.
– Ah, nosso amor não tem hora, homem garboso e valente!
– Ele é constante, intermitente, ininterrupto, persistente. Oh, moça garrida. Nosso trem não tem volta, somente ida!
– Ah, como sou feliz contigo guerreiro da paz, como me sinto querida!
– Ah, amiga minha, por ti minha espada nunca descansará na bainha.
O tempo passou, o vento soprou, o sol queimou a erva do campo, a seca veio à cidade. Os homens correram cada um para sua casa.
– Piedade!
– Piedade?
– Sim!
– A piedade está cansada. Sentou-se em algum lugar da estrada.
– Cada homem comerá de sua própria carne!
– Piedade! Tenham Piedade!
– A piedade é uma velha vaidosa!
– Por favor, piedade!
– Pare com essa prosa!
O sol escureceu no céu sem estrelas.
– Tenham piedade! O escuro é medo, é dúvida, é incerteza!
– Não te conheço! Nem te vejo! Como é mesmo a tua história?
– Lembra-se do céu, da moça bonita, do homem disposto a toda e qualquer empreitada?
– Não!
– E aquela espada?


– Não!
– Para onde vais, então?
– Eu vou à busca de mais promessas. Minhas amigas prostitutas; meninas de boa alma.
O leite do peito secou. O sangue escorreu, a mãe chorou, a criança morreu.
Promessas são promessas, nada mais e tudo menos.
– Eu te amo, meu amor.
– Idem.
– Eu te amo idem.
– Idem, te amo.
– É fácil dizer…

domingo, 19 de março de 2017

HORRENDA CRIATURA


Estava eu, esta horrenda criatura do sertão, a me perguntar sobre a beleza das coisas.
O céu, beirando o colapso do dia, entregava-se rendido, sem forças, a noite que me cobrava à conta das horas.
Mais uma vez o ‘o que poderia ser’ torna-se história de um dia vivido. E mergulhado na escuridão noturna caçava eu o que dizer sobre o que eu nunca dissera.
O que passou já foi embora.
O que foi embora; foi embora, porque passou.
Eu e ela nunca mais nos encontramos.
Nunca mais dissemos que nos amamos.
Amávamos um ao outro como almas gêmeas.
Almas que sabem o que sentem.
Sabem perdoar;
Sabem deixar pra lá;
Sabem dizer sim ou um não, um não com perdão. Quem ama sempre perdoa: Eis a fraqueza do amante que na vida se atordoa.
Sabe eu fiz de tudo. Vesti luto por noventa dias!
Sabe eu a estendi a mão. Mas, ela não a viu!
Seus olhos como pequenas bolas de vidro congeladas estavam a olhar o tempo. Nem um beijo de irmão a faria despertar.
E eu pensei ser tudo.
E eu acreditei ser o rei.
E eu rezei a reza que ela não sabia.
E não disse a poesia, ou cantei a canção que nos levasse a algum lugar.
Ela era linda;
Ela era tão desejável quanto a mais bela moça de minha juventude.
Estava eu no fim do dia quando o sol some no horizonte lilás.
Hora que lembranças nos trás. Havia uma pequena que morava perto do Riacho Fundo. A menina encantou-se por um cavalheiro estranho. Diz o povo que no final de sete luas ela sumira no mundo. Ninguém sabe o paradeiro dos dois...