sábado, 12 de novembro de 2016

SONHO

O violão fala a cada acorde.
A noite se fadiga de um dia já vencido.
As instituições mergulham nas sombras negras da noite de muitos,
Pois o sol só nasce para poucos.
Poucos que se somam milhares de sem rostos, meros esquecidos,
Deixados para trás em uma luta desigual.
O violão não se cala, não fala, agora geme o meu cântico vestido de roxo e azul.
Não espere a aurora nascer.
Antes disso estou de pé.
Somam-se, aos milhares, as caveiras vivas de nossa mortandade urbana.
Um dado da semana, e dela lágrimas emana dos que se perderam por um momento.
Eu lamento!
Não nego, sempre disse, a calçada é de cimento,
Totalmente imparcial.
Os pés são o bem e o mal.
O violão estala tons que não entendo,
Só sinto que há uma música.
Uma canção distante,
Ela me diz de dias vindouros,
Um desejo,
É bom desejar,
Olhar para o mar,
Aguardar a maré retornar.
Pisar a espuma das águas na beira da praia.
Acreditar que nada é como se apresenta.
Ou é totalmente como dizem.
Lembrar de Lindalice.
Linda Alice!
De seu beijo,
De seu cheiro,
De seu calor,
De seu amor,
De seu encanto.
Que me tira, por vezes, o espanto.
Que me acalma a ira.
Põe fogo à minha pira.
Tragam-me meu sonho!
É bom sonhar enquanto o violão suspira.

Roxelane

Roxelane era virgem; nunca tinha feito amor.
Roxelane ia sempre à missa.
Roxelane fazia tudo certo, nada errado, pelo menos era a intenção.
Roxelane respeitava seu mundo.
Seu mundo não a conhecia.
Seu mundo nem sabia de Roxelane.
Sua casa era velha.
Seu quarto um barraco.
Sua cama palha e pano; terror de Roxelane.
Roxelane pegou uma condução.
Condução ao centro.
Roxelane virou refém.
A polícia atirou.
Acertou em Roxelane.
Roxelane foi para sua nova casa.
Uma cova rasa no cemitério da ferrovia.
Roxelane já era.
Ninguém a viu...