sexta-feira, 22 de abril de 2016

INSÔNIA

INSÔNIA POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE Se eu pudesse me deitaria e dormiria sossegado a noite toda; se eu pudesse poria minha alma em meu leito nas horas noturnas e faria de mim uma ilha cercada de lençóis e travesseiros macios. Mas, não posso; isso é fato. E se é momentâneo não o sei. Não posso dormir, embora, pesem os olhos a fadiga do longo dia de lutas e cânticos de esperança. Lamento dizer, mas, parece que dormir é um direito que não tenho, não sei se estou certo; não tenho certezas; se sei, perdi a razão das coisas. Se eu pudesse faria de mim mesmo o sono com ou sem roncos; o outro, no momento, não é meu foco. Se eu pudesse me esbaldaria de tanto descansar enquanto o mundo agitado maquina mais um dia sobre as incertezas de todos os viventes racionais. Eu vi, dias atrás, que nem tudo é o que parece ser. A semelhança das coisas são apenas coisas que percebemos, o mundo é uma metáfora de ideias voláteis. Enfim, criamos tudo menos essa esfera perdida no meio do nada. - Ah, se eu pudesse sentir a tranquilidade das horas quietas! - Ah, se eu dormisse uma noite completa das seis às seis! - Ah, se eu, decididamente, acordasse e visse outro mundo que minha mão não ajudou a criar! Insisto em dizer: “Essa insônia não é só minha!” Isso é coisa malvada de todos os olhos; Isso é mais que um isso; é o tormento dos homens que se abandonaram em ser; são homens reféns das ilusões alheias. Ser! Eis a falta de razão! O ser é coisa que fere os olhos; ele cega-nos de dia para que à noite o não-ser que se esconde entre vísceras e pano, ou máscaras e fantasias diga de si no solitário vácuo do sono. Ser insônia é algo, extremamente, racional; é a depurada lógica dos que fizeram o isso-mundo, ou o tudo isso; um isso que reclama por aquilo; ser aquilo é ser diluído pelo solvente de uma civilização angustiada. Na terra, os homens se ferem no tempo e no espaço, e segundos depois se abraçam, se irmanam, fazem proezas do bem ainda com o sangue do outro na mão esquerda. Isso é uma festa; uma ironia das coisas que pensam pensar em alguma outra coisa. Insônia! Essa é a condição do ser no mundo. Pois, os que dormem nada sentem; nada veem, nada fazem, excerto, sonharem com seus fantasmas, e estes são almas sem corpos, ou corpos sem almas; são criaturas desalmadas que perambulam por aqui e ali em busca de algum sentido novo. Se eu pudesse, eu dormiria! Se eu pudesse eu seria esse paradoxo incompreensível de querer ser mais alguma coisa além de mim mesmo. Que pena tenho eu dessa criatura que sou! Sou a vítima de minhas escolhas, ou o herói de um filme holliwoodiano. Minha cama é maior que minhas medidas. Oh, que gozo inefável de ser nesse retângulo de tecido mole! Oh, que prazer de deitar-me cedo e apagar as luzes! Oh, Que coisa boa é dormir...