sexta-feira, 11 de maio de 2018

ZÉ DE JESUS E A JUMENTA FALANTE

Diz a Bíblia, e ela não mente que num passado bem distante o bicho falou com um profeta atordoado chamado Balaão. Pois, meus amigos, meu espírito andou pela Vila de Campos em busca de um Fiel. Sim, senhor; é muito fácil dizer-se crente; estar bem bonito ou bonita na igreja; barbinha feita, ou o cabelo passado na chapa. Vi com meus dois olhos que, embora míopes, pude enxergar muita coisa braba nesses sertões no meio do povo conhecido como “O povo de Deus”. Era 1987. A Velha Vila de Campos fervia de gente de todo canto. Parecia que, aqui, era o lugar de encontro de gentes de várias partes do sertão. Eu era um modesto contador de histórias. Minha pessoa estava sentada num bar na Avenida João Alves quando chegou um senhor de cabeça branca, barba branca, e pele branca, e se sentou à minha mesa; o homem me olhou nos olhos e me disse: “Contador de histórias, conte sobre o fiel e a jumenta que falou”. Puxei a cadeira pra trás e disse ao moço: “Se de um Fiel a Deus já é difícil contar quanto mais uma jumenta falar”. O moço coçou o coro rosado da testa e me disse olhando em meus olhos sem piscar um instante: “Então durma que eu te falo”.

No alto da boiadeira nasceu um menino que lá se criou até o final dos anos 60. Um dia de sol quente uma jaracuçu picou seu pai. Este era um homem bom que temia a Deus e respeitava a todos. Sua mulher, dona Virginia depois da morte de seu velho definhou; três anos depois, a mulher desceu a cova e se juntou ao seu marido. O único filho do casal foi morar na casa de dona Austera, uma senhora muito católica; uma mulher de que ninguém podia dizer nada de errado.
- Zé Jesus, hoje chega teu carro de frete pra você trabalhar na feira e na frente do supermercado, assim você vai ganhar uns trocados para ter suas coisas. Zé passou as mãos nos olhos azuis arredondados, depois pôs uma mão no bolso; olhou para tia e disse.
- Graças a Deus, agora vou poder comprar minhas coisinhas. E foi isso; Zé começou com um carro de frete, depois, pôs uma barraquinha de lanches, e mais na frente, já nos anos 80, o homem era dono de uma lanchonete bem no meio da feira. Zé ganhava para si, e para ajudar sua tia que na época era uma mulher idosa precisada de cuidados. Zé tinha três casas de aluguel, dois chãos, e um chevette 81 modelo sedan. Mas o homem tinha um ponto fraco. O maldito jogo. Zé apostava em tudo e jogava baralho nas sextas feiras numa casa no final da Getúlio Vargas. Certa noite, o jogo foi até tarde, Zé ganhava e com isso se atreveu a uma jogada de mestre: “Aposto tudo nessa mão”. “Mas, Zé, se acalme, vá para casa, você num já tem seu dinheiro?” Disse um amigo anão, natural de Itabaianinha. Zé insistiu e perdeu tudo. Não se satisfez com a derrota e apostou as casas; Zé perdeu todas; o moço tornou-se compulsivo e decidiu apostar chevettinho; o perdeu também. Assim, Zé perdeu tudo numa mesa de jogo, e foi morar no beco do matadouro antigo, numa casa alugada por um amigo. O tempo passou e Zé perdeu o amigo. O homem dormiu e amanheceu morto. Diz o povo que foi o vento. “E agora, Zé Jesus?” perguntou a si mesmo o homem da boiadeira. Zé virou morador de rua. Todos os dias, como alma penada, o homem andava pela cidade pedindo uns trocados que ele dividia entre a comida e a pinga que não podia faltar.
- Isso é vida de gente disse uma voz no antigo Parque dos Missionários.
- Mas quem fala comigo? Perguntou Zé com a voz etílica.
- Rapaz, você um homem descente cuja família ninguém se diz um agravo, nessa vida?
- Oh, seu filho da peste, vá cuidar de sua vida!
- Então, tá bom! Eu vou. Zé ouviu o barulho de casco de bicho pisando no chão.
- Pare aí moço!
- O animal parou.
- Oxente onde está o homem?
- Que homem; fui eu que falei contigo. Zé andou uns metros tropegamente e com dificuldade apanhou um pedra e a tangeu na jumenta. “To ficando doido, nunca vi jumenta falar!” Ali, mesmo ele arriou e adormeceu.

Nas segundas feiras, era costume de Zé ir à feira da Coruja para esmolar. Mas, aquele seria um dia muito especial para ele. Estava na feira o pregador Agenor. Agenor dos Santos anunciava o retorno do Cristo e ao fazer isso, ele citou a seguinte passagem: “Se Deus falou bela boca de uma jumenta quanto mais ele fará por ti”. “Opa!” Pensou Zé Jesus. “O bicho era uma jumenta sem ninguém montado, então, uma jumenta falou comigo!” “Terá sido Deus?” Concluiu o raciocínio o jogador de cartas Zé Jesus. Agenor continuava sua pregação com muita sinceridade na caixa do peito: “Se hoje ouvirdes a sua voz, e Nele Credes; Serás salvo”. Zé Jesus saiu do meio do povo tropeçando por causa da cachaça; e foi tombando e caiu aos pés do pregador que prontamente disse-lhe: “Você quer aceitar Jesus?” Zé respondeu: “Aceitxo, sim senhor!” Desse dia em diante Zé Jesus virou crente.

O irmão Zé melhorou a leitura, aprendeu a escrever de tudo e de vez em quando pregava numa congregação perto do lugarejo Curtume. Zé, agora, era um homem respeitado novamente. Nunca mais jogou, ou bebeu cachaça, nem raparigou, nem roubou porco ou galinha de sua vizinhança. Quando passava com seu terno cor de abóbora, o povo das calçadas dizia: “Olha lá, olha!” “Aprontou e agora é santo!” Mas Zé não olhava para os lados como ensina o salmo sagrado, nem perdia seu tempo com as coisas desse mundo. Sua vida era a vida de um fiel de Deus. Mas, nesse mundo onde o cão anda solto, as coisas nem sempre permanecem em paz. O chifrudo resolveu tentar Zé Jesus.
- Zé; vou deixar a igreja! Disse Agenor com muita tristeza.
- Mas, por que meu irmão?
- O Pastor não me dar oportunidade nem reconhece meu trabalho na feira. Ele comentou que sou um pirado.
- Pirado! O sangue de Jesus tem poder! A saída de Agenor muito entristeceu o irmão Zé. Por causa disso ele foi ao Missionário orar. “Mas, meu Deus como pode uma coisa dessas, uma pessoa como Agenor sem o direito de prega a Palavra!” O vento assobiava nos pés de eucaliptos, os patos nadavam mansamente na lagoa do Missionário. Não havia ninguém lá, exceto, o pobre Zé. De repente, Zé entorpecido pelo clima bucólico do lugar ouve um rinchado de jumento. “Oxente, será o bicho que veio falar comigo?”
- Zé; traíram o mestre, mas, mesmo assim ele não fugiu de seu intento.
- Mas, dona jumenta, eu me converti por meio de Agenor; sem ele eu vou sair de lá. Com as palavras da jumenta profeta, Zé se conformou e continuou sua vida com Deus e ganhava muitas pessoas para Ele. Na loca que ficava na raiz de pau de um juazeiro, na margem do Rio Jabiberi uma cobra mostrava a língua ao tempo; a bicha estava faminta.

Zé se conformou com a saída de Agenor. Sua igreja cresceu e entraram muitos jovens, entre eles umas moças que vieram do mundo das drogas. “A gente vai ter que receber esse pessoal com uma estratégia inovadora”. Disse o pastor Felisbelo. A igreja pôs uma banda de Rock Gospel. O povo nem sabia o que era isso. A confusão tomou conta da igreja.
- Pastor isso é coisa do mundo! Disse o diácono Peixoto - aquele que sentava à porta da igreja e fingia estar lendo a Bíblia para dar suas cochiladas.
- Eu li num livro evangélico que Rock é do satanás. Disse a irmã chefe de oração. Raimunda nunca usou calça comprida; sua roupa era sempre um vestido folgado em cima e bem apertado nos quadris. Minha humilde pessoa, por vezes, pensou que o vestido de Raimunda se rasgaria quando ela se sentasse no banco da igreja.
- Olhe pastor, não devemos imitar o mundo! Falou com tom grave o evangelista Luís – um ex – gay que cuidava do grupo de adolescentes “Jovens transformados”. O pastor Felisbelo ficou muito irritado com a reação da igreja, contudo, o amor pelas as almas, o fez continuar seu projeto. Em sete meses, a igreja tinha sessenta jovens matriculados na classe de catecúmenos. Mas, o irmão Zé se entristeceu novamente com o que via e ouvia. Essa geração de crente não lia a Bíblia, e nem orava. De fato, eles queriam viver os mesmos costumes de antes. O que mudava era a forma. Zé foi orar na beira do Rio Jabiberi. “Senhor, eu estou vendo que está tudo mudando; meu Pai, o que está acontecendo?” A jumenta chega de mansinho e dá um susto em Zé.
- Oxente jumenta profeta! Tá me fazendo medo?
- Num é assim que chega o tentador? De pontinha de pé?
- É dona Jumenta. Estou muito triste com que estou vendo. Agora tem de tudo na casa de Deus, menos Ele. Se eu vier para beira do rio eu num vou puder falar com Ele.
- Meu filho, é sabido que seria assim, mas, o fiel persevera até o fim. A jumenta falou e saiu rinchando dando uns pinotes com as patas traseiras. “Oxente!” “O que houve com ela?” Zé olhou adiante e viu a loca da cobra.

A igreja cresceu e com seu crescimento veio o interesse dos políticos: “Felisbelo devia sair vereador pelo nosso partido, num é Dr. Frank? – o médico da família” “É, sim, senhor”. Felisbelo foi eleito vereador. A igreja virou alvo das antipatias e simpatias políticas do município. Com isso Zé tornou a orar a deus e disse: “Senhor, para o mundo eu num volto, mas, aqui, num fico, não!” Após a oração contrita em sua residência, O fiel pega no sono, e acorda no outro dia com um rinchado de uma jumenta à sua porta. “Com a paciência salvareis vossas almas”. O animal irracional roçou a testa no peito de Zé. Dona Sebastiana, crente de Sambaíba há muitos anos disse: “Zé tá de chamego com uma jumenta esquisita”. “Tá vendo, diz que ora; crente safado!” Sete dias se passaram, durante os mesmos, o povo de Tobias e de Sambaíba comentava o caso do chamego entre Zé e uma jumenta. Até que a caluniadora teve um engasgo com um osso de galinha e bateu as botas. Diz o povo que a língua dela estufou saindo da boca mais de um palmo. Zé suportou a calúnia jejuando todos os dias até 5 da tarde. No final dos mesmos a bendita jumenta veio novamente.
- Zé, disseram que o mestre foi caluniado e suportou tudo. Ele falava até com as putas. Sua pessoa está muito mimada.
- Mas dona jumenta está escrito que “longe de vós toda aparência do mal”. Acho que eu e sua pessoa num pode mais se ver não. A jumenta saiu triste e desceu para as bandas de Riachão. Passou um tempão até que Felisbelo teve um chamado do Senhor para ter um programa de radio: “Ministério Vencedores”. A igreja comprou, primeiramente, uma hora, depois, duas horas, depois, três horas. Quanto mais horas; mais o povo dava oferta e mais a igreja crescia, e mais Felisbelo ficava rico. A igreja cresceu tanto que os antigos crentes desapareceram no meio dos novos; estes trouxeram cada um seus terrores. “A irmã Carla está prenha do irmão Francisco!” “Rapaz, num acredito não!” “Hoje à noite no culto, olhe para o bucho dela!” De fato, a mulher estava escondendo seu pecado, mas, não teve jeito. Alguns irmãos saíram escandalizados da igreja: “Pregam uma coisa e a gente vê outra”. Zé tentou desfazer a coisa, contudo, o povo tinha a prova material da contradição. “Vou falar com a jumenta e ver o que ela tem a dizer”. Pensou o homem de Deus.
- Dona jumenta qual o motivo da contradição?
- Que contradição, Zé?
- Na pregação dizemos que as pessoas aceitem a Cristo, mas, uma ou duas num universo de centenas vivem mais ou menos alguma coisa.
- É por que as igrejas têm seu foco na quantidade. Veja que o Mestre só teve doze discípulos, e mesmo assim, perdeu um. Já pensou se ele tivesse cinquenta milhões?
- Então, dona jumenta eu vou deixar de ser crente!
- E você é crente?
- Eu pensei que você era cristão.
- É só um modo de dizer dona jumenta.
- Mas os modos de dizer refletem os modos ou os modelos da sociedade. Você está vendo a igreja como um crente, um membro de uma seita religiosa.
- Dona jumenta sabe muito! Zé se aproximou para passar a mão na testa do bicho. Em uma moita de macambira estavam três diáconos da igreja para flagrarem Zé no ato de adultério com um animal irracional, uma verdadeira abominação ao Senhor. No outro dia à noite, Zé foi chamado para uma reunião extraordinária de membros da igreja:
- Zé Jesus durante muito tempo foi um servo leal ao senhor. Pregou a Palavra e nada quis para si. De que o acusai vós.
- Flagramos o irmão alisando uma jumenta com a qual ele mantinha encontros regulares. O povo a uma só voz fizeram “Ohhhhhh!” Alguns diziam; “Isso é crente nada!”
- Zé Jesus, o que tens tu a dizer a teu favor? Zé pensou no texto de Pedro que diz que o Mestre ficou calado.
- Teu silêncio é tua condenação, no entanto, minha esposa teve, ontem, um sonho que Jesus entrava aqui montado num jumento. Eu lavo minhas mãos! Mas o povo dizia: “Expulse Zé da igreja!” Zé foi expulso da igreja acusado de ter coito com animal.
“Irmã, Zé orava tanto!”
“Num é mulher, como o diabo é sujo!”
“Mas, logo, uma jumenta!”
“Por que ele não procurou uma mulher!”
“Num foi!”
“Que coisa feia!”

Zé ficou triste; e envergonhado na cidade. Não se falava noutra coisa: “O crente que papou a jumenta” Muitos foram os meses que Zé comia raízes, e frutos silvestres. O homem virou um João Batista.
“Raimundo, Zé tá doido; ele fica nos pastos, lá em baixo, perto da barragem. Dizem que ele rincha, mas, sua namorada não aparece”. Por quarenta dias Zé se alimentou de raízes e mel de abelha. Aqui e ali ela encontrava frutos do campo. Zé orava a Deus e Deus não o respondia, nem a jumenta sabida aparecia. Zé, em desespero, na agonia de sua fé diz para si: “Tornarei a igreja e vou dizer tudo que vejo e penso”. Ao dizer assim, sopra o vento quente do sertão; as folhas secas são erguidas do chão pela força do mesmo. Numa terça feira à noite, Zé Jesus entra na igreja no horário da pregação.
“Hipócritas, arrependei-vos!” “Vixe, o homem tá doido mesmo!” Disse Cleo de Andrade. Uma mulher trajada de roupa bem sensual, que mostrava os contornos da calcinha disse respondendo ao profeta: “Vá se tratar rapaz!” “Vocês pregam o amor entanto, condenam uns aos outros; cada um só pensa em si; vossos pastores só pensam em ouro e prestígio”. Replicou Zé. Felisbelo chamou os diáconos Manfredo, 187cm e Segal, 191cm para acalmarem o irmão possesso. Tentaram expulsar o demônio de Zé pressionando-lhe a cabeça, e segurando-lhe os braços. Zé tentava reagir dizendo: “Eu sou lavado no sangue do Cordeiro”, Os diáconos diziam: “Sai dele satanás!” Quando subitamente ouve-se um rinchado dentro do santuário. Dona Euclides, mulher de Demétrio que era tio de Felisbelo gritou: “A rapariga dele acabou de entrar na casa de Deus!” Todos pararam, os diáconos soltaram Zé que estava exausto e machucado. A jumenta solta um pum e sai pinoteando dentro do santuário. O povo dizia: “Até a jumenta dele está com o cão nos couros!” Chamaram a polícia que veio como um raio. Ao ver o bicho solto na igreja, os policiais disseram: “Chamem os bombeiros, esse não é serviço nosso”. Chamaram os bombeiros que prontamente atendeu aos apelos de Felisbelo. Ao chegarem os bombeiros pediram o formulário do ibama. O pastor, então, disse: “Pelo amor de Deus, parem o bicho, pois, hoje Deus vai falar com a igreja”. “Sem formulário, não podemos fazer nada pastor, lamento”. Disse o tenete José de Arimatéia dos Santos. Um irmão novo convertido perde a paciência e saca um revolver calibre 38 que estava escondido em suas calças. Foi um tiro só; bem no meio da testa do bicho. Zé quando ver sua amiga de fé numa poça de sangue, ouve o bicho dizer: “Em tuas mãos eu entrego o meu espírito”. A jumenta morreu dentro da casa de Deus. O silencio era imenso, se caísse um simples alfinete, ele podia ser ouvido. Por um instante houve paz. Zé Jesus continuava abraçado com a jumenta morta e dava-lhe beijos na testa. As mulheres crentes, embora, emocionadas viram o carinho de Zé pelo animal. Três horas após a morte do animal algo muito estranho aconteceu. A jumenta vai lentamente se transformando em algo diferente. “Mulher, o que é isso?” “Num sei não!” “Rapaz, a jumenta está virando gente”. A jumenta virou um carpinteiro, em suas mãos estavam as chagas sagradas que perdoaram o mundo inteiro. O seu lado direito tinha uma ferida de lança e dela escorria sangue e água. Em sua cabeça uma coroa de espinhos, mas, em seus braços, sim, em seus braços estava Zé de Jesus que acabara de falecer de infarto pela tristeza de ver sua jumenta profeta morta.
Meu humilde espírito se despertou com o estalado dos foguetes na Avenida João Alves. Olhei em todas as direções e o homem que falava comigo havia sumido. Perguntei as horas. O dono do bar me respondeu que eram nove horas da noite. Paguei a conta e fui dar mais uma volta pela cidade. Fui ao cemitério. Não havia ninguém vigiando o lugar. Andei por suas ruas até que achei um túmulo onde estava escrito num pedra de mármore: “Sem profecia o povo se corrompe; descanse em paz irmão Zé de Jesus”.

FARIAS E A MOÇA

Minha pessoa acorda cedo todos os dias. Isso ocorre há tanto tempo que nem me lembro de quando começou. Às vezes me recordo de meu finado pai à porta do quarto me chamando: “Farias vá para a escola já passam das sete”. Seu Clovis foi um pai acima de qualquer crítica, e assim deve ter sido minha educação. A primeira comunhão, a crisma e outras ações religiosas, embora sob os cuidados de minha mãe Dona Tamísia da Barroca foram todas acompanhadas pelo velho Clóvis: “Tamísia esse menino foi para a catequese?” Dias bons aqueles, que Deus os tenha em um bom lugar.

Acordar cedo e ir para a repartição têm sido a rotina de meus dias nesses anos abençoados de 1998. Meu chefe, seu Antenor, um dia me disse: “Farias, é o trabalho que dignifica o homem”. Bem, eu não concordo muito não, pois, em nosso país, a classe trabalhadora nada tem. Mas deixa isso pra lá. Antenor é um sexagenário muito rigoroso, contudo, devo ter caído em sua graça. Nunca mais cheguei às sete e meia. Todo mundo reclama, mas, Antenor diz: “Deixa o homem quieto”.

Com a cumplicidade de Antenor, por vezes caminhei de manhã cedo na linda Aracaju ao desabrochar do dia. Parece que as pessoas estão melhor pela manhã. Todo mundo diz bom dia. Os sorrisos nos lábios são muitos. O calçadão da Rua da Frente fica cheio de pessoas com os cabelos pintados de preto. Elas vão e voltam como que esperassem um milagre. Lembro-me do dia que encontrei uma conterrânea de Campos. A mulher estava entrando nos setentas, no entanto, sua lucidez me deixou de boca bem aberta.

- Mas Dulce, quanto tempo!

- Quanto tempo o que? Farias tenha fé em Deus! Isso num se faz! A moça te espera até hoje!

- E ela me espera?

- Não, num espera não! Rapaz, que coisa feia!

- Ora, Dulce! São coisas da vida! Não dava para eu ficar com uma menina daquelas, né.

- Então não enchesse a cabeça dela de esperança! Farias, você foi sem vergonha! Tentei mudar o rumo da conversa, mas, a velha Dulce foi impiedosa. O caso é que há dez anos quando minha pessoa tinha cinquenta e quatro, conheci uma moça durante uma visita a Vila de Campos, a atual Tobias Barreto...

Era época de missões. Tinha gente de todo canto do imenso sertão entre Tobias e Poço Verde. A cidade, em determinadas horas parecia mais um formigueiro gigante. Todo mundo queria a benção de Nossa Senhora Imperatriz dos Campos. A praça defronte a igreja matriz estava tomada de gente. Lembro-me muito bem de uma anãzinha, natural de Itabaianinha. Dizem que lá tem a cidade dos anões. A moça queria ver a celebração, mas, o povo eufórico não deixava a mulher passar adiante. A coitada dizia: “Com licença, com licença” e nada do povo atender. Fiquei um pouco indignado com isso e acompanhei a pobre mulher até o cruzeiro dizendo-lhe: “Suba na base de pedra e você vai ver melhor”. A mulher fez isso. Quando seus olhos miúdos e azuis viram a nave do santuário, a mulher passou a exalar alegria por todos os poros de seu pequeno e frágil corpo. Ela ficou para trás e eu segui meu destino em meio ao povo. Andei pela festa toda até o sino da igreja bater avisando o fim da missa. Decidi passar novamente pela Praça da igreja para ver como as coisas estavam. O local estava vazio, o chão da praça feito de pedras portuguesas estava coberto de lixo, sacos de pipoca, guardanapos, canudinhos etc. Parecia que uma imensa boiada havia passado no local. No canto, defronte a pousada “Sol Dourado” avistei duas pessoas que conversavam baixinho, ora riam, ora cochichavam. Uma delas eu já conhecia, era a anãzinha, a outra era uma moça de seus trinta e cinco anos. A menina tinha uma aparência ibérica muito bem desenhada pelo criador. Olhos verdes claros, cabelos loiros, mas não muito loiros, um metro e setenta e dois, uma cintura brasileira bem definida, e pele branquinha mediterrânea como o sol da Grécia.

Meus olhos castanhos claros caíram de cheio sob a moça que me correspondia com sorrisos pelo canto da boca e olhares de gatinha mansa, aqueles que as atrizes de televisão fazem para mostrar ao público que a cena vai esquentar. A anãzinha ao ver-me diz: “Olha, Bela, meu salvador!” Na verdade, cá entre nós, minha pessoa, digo, eu mesmo, sou ateu. Mas, o salvador estava ali na hora certa para socorrer uma pobre anãzinha e agora recebia, quem sabe, do divino mestre uma recompensa: Bela!

- Eu sou Maria das Dores. Apresentou-se a pequena mulher.

- E essa é Bela, minha sobrinha. Continuou o pequeno ser. Cocei a garganta e disse meu nome com dúvidas se estava fazendo a coisa certa.

- E o meu é Farias. Após apresentados acompanhei as duas mulheres até o bar Secos e Molhados onde elas esperariam o ônibus para o Povoado Ilha.

- Quando é que você aparece lá, Farias? No sertão é assim, depois que se quebra o gelo, o sol aparece e esquenta as relações.

- Nesse final de semana. E foi assim durante uns dois meses. Com o tempo, eu passei a dormir na casa de Bela, com todo o respeito é claro.

As noites dormidas na casa de Bela e sua tia foram marcadas pelo misto de tensão e prazer. Primeiro, a anãzinha não me dava chances de realizar meu intento, secundo, quando Bela tocava em mim, eu me desmanchavam de prazer. Convenhamos um homem na minha idade viver um caso de amor com uma moça de trinta e cinco é, no mínimo, algo fora da regularidade. Os meses passavam, e minha pessoa fiel aos finais de semana na casa da anãzinha. Tudo que eu queria era uma chance de ficar sozinho com Bela.

- Farias e Bela venham cá!

- Pois não tia! Disse Bela como que soubesse o conteúdo da conversa.

- Vou passar esse final de semana em Campos. Vocês se comportem!

- Nos comportaremos tia, num é Farias?

- É. Não sei muito bem o que estava na minha cabeça, mas, no íntimo eu sabia que algo estava acontecendo.

- Num se preocupe, cuidarei de Bela como se fosse minha filha! A anãzinha entrou no ônibus e acenava com sua mãozinha para nós. No seu semblante estava um ar de “Deu a louca no mundo”. Tudo isso minha humilde pessoa viu, mas, não se importou!

Liguei a televisão para ver alguma novidade. Enquanto isso a jovem moça estava no banheiro a banhar-se. A televisão era aquele velho tédio de todas as manhãs e tardes dos finais de semana. Nada tinha de bom, exceto, os programas e shows tão batidos que todo mundo já sabia o que ia passar “Retrato da Vida”, “Roda da Esperança”. Eu sabia que meu alento àquele final de semana seria a jovem Bela. Eu precisava me sentir novo de novo. A menina saiu do banheiro enrolada numa toalha rosa. Passou pelo corredor onde pude ver sua silhueta: “Sensacional”. E finalmente, entrou em seu quarto, de onde ela me chamou: “Farias”.

- Farias, você pode ajudar?

- Claro, Bela!

- Passe esse hidratante em mim. Ela me estendeu a mão esquerda. Nela estava o pequeno frasco de hidratante. A pele da moça era macia como seda. Adorei cada centímetro umedecido pelo hidratante. Em certo ponto eu parei. Às vezes, é embaraçante um homem tocar numa mulher. Disse eu a mim mesmo: “Seria uma sensação indizível tocar nela toda, mas, devo manter mina compostura”. Com discrição a devolvi o creme. Ela o recebeu sem me dizer uma palavra, o silêncio entre nós dois falava muito. Seu peito, um pouco ofegante, clamava a mim que fazia de conta nada entender.

- Bela, vou ver se já acabou o show.

- Certo, meu cavalheiro! Essa palavra, por um instante, me causou arrependimento de não ter sido ousado. Fui novamente para a sala. Olhei para o relógio de parede; eram nove e trinta da manhã. Minha mente pensou na velocidade da luz: “Já” Passa rápido. Gritei para Bela perguntando-lhe a que horas sua tia voltaria. Bela disse com um tom sério: “Depois de meio dia”. Bela saiu do quarto e veio para junto de mim. A moça estava um tanto calada, mas, isso não lhe impediu de me fazer uma proposta maravilhosa: “Farias, vamos para o quintal deitar na rede!” Não sou cearense, todavia, depois que experimentei a rede da anãzinha me apaixonei.

Bela usava uma bermuda jeans e uma camiseta fina de algodão. Havia um pequeno desenho bem meio da mesma; era um pássaro beijando uma flor. Seu cabelo fino e bem cuidado estava preso, e o seu perfume me deixou um pouco tonto. Eu o sinto até hoje, parece que ele impregnou-se em mim. A camiseta de Bela seguia o curso dos movimentos de seu corpo franzino e esbelto. Ora, ela me dava a visão de seu umbigo bem talhado naquela tábua chamada barriga. A visão de um simples umbigo fazia meu coração cinquentão acelerar e o suor escorrer pelo pescoço como uma tênue cascata. Ora, era a pequena bermuda jeans que me permitia ver aquelas penas bem trabalhadas e que me inspiravam muitos desejos. Pensei comigo: “Aos cinquenta eu vivo um momento único!” “Mas, que mulher!” De fato, Bela era um bom exemplar da mulher sergipana.

A conversa fluía, porém, Bela nada me perguntava sobre meu passado. A jovem moça se concentrava apenas no momento presente. Para ser verdadeiro, até hoje não entendi o porquê dela se envolver com um homem bem mais velho como eu. A rede balançava e com ela ia o casal em descobertas e descobertas. Seus lábios eram doces como mel, e seu hálito aumentava em cem vezes minha libido. Parece que suas entranhas eram abençoadas. Mas, algo estava faltando: “Vê-la totalmente nua!”

O relógio da sala bateu onze e meia. O tempo passava e nós dois nem via. Bela se levantou da rede e foi preparar alguma coisa. Eu a acompanhei até a cozinha; ora ou outra eu lhe abraçava e lhe beijava. Nós dois preparamos a comida; comemos juntos, e depois voltamos para o quintal: “Bela não se preocupe, eu lavo os pratos”. Um homem quando quer impressionar uma mulher diz de tudo!

Ficamos na rede a conversar sem se preocupar mais com nada, para nós dois o tempo era aquele; juntos o tempo era nosso! Bela pegou no sono eu resolvi explorar seu corpo fazendo-lhe pequenas carícias. O sono da menina era tão profundo que descobri seu corpo em poucos minutos, minha mão ficava de vez em quando dormente tamanha era a força que eu fazia para torna-la leve como uma pluma. Agradeci a mãe natureza por conhecer aquele corpo divino. Lentamente tirei-lhe a camisa. O que é muito estranho é que não tive dificuldade para fazê-lo parecia até que a camisa sabia do próximo movimento. Depois abri os botões de sua bermuda, e lentamente fui vendo o que estava do lado de dentro: “Meu Deus!” Embora ateu, mas foi essa a palavra que eu disse. Bela era toda linda!

Tirei sua roupa toda, depois tirei a minha. Sentei-me na rede e puxei seu corpo adormecido até mim de forma que eu ficasse entre suas pernas. Aí, a coisa pegou, meu coração batia tão rápido que parecia que ia sair pela boca. A respiração da menina ficou de imediato ofegante; a pobre moça mordia os lábios o que me fazia ficar ainda mais vivo. Alguns gemidos saiam ritmados de sua boca. E isso aumentava a quantidade de gotas de suor no meu rosto. Nós dois estávamos banhados de suor! Fizemos a mesma coisa uma; duas vezes, até eu me cansar. Devo admitir, a velhice é uma parte bonita da vida humana, mas, nada se compara a força da juventude.

A anãzinha nos pegou nus na rede. Ambos adormecidos. A mulher me pôs para fora de casa. Desde então nunca mais a vi. Dona Dulce, a vizinha, depois ao encontrar-se comigo na feira me contou que a moça me esperava. Mas, eu achei que foi o bastante para nós dois.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

LUZ

LUZ
Entre eu e a escola onde trabalho existe uma estrada de barro e cascalho. No inverno, ela é lama café com leite, e no verão, pedra quente, coisa nervosa; coisa, por vezes, trevosa.
Longos anos no sertão, lugar de barro, lugar de pedra sedimentar, ou de rocha metamórfica. Lugar de estradas desertas, lugar sem lugar algum; só um campo, ali, onde os homens disputam o chão. Para quem chega, lugar de novidade, para quem já estar, lugar, mais uma vez, sem lugar algum.
Dizem que o sertão tem muito terreno, tem lugar para todo mundo. Dizem ser o sertão um lugar como o coração de mãe. Mas, as estradas do sertão não te levam muito longe mesmo que a tua viagem seja muito comprida. Pois, aqui, tem lama, tem o velho cascalho ou um jogo de baralho no bar de Zé Ramos por não ter o que fazer.
O sertão morre no verão e renasce no inverno e nos entrementes lutam as mentes pelo idoso e novo pão. Sim, isto faz todo sentido! É luz que brilha como a lua numa bela e barulhenta quadrilha de São João.
Mas, a escola, a criançada como carne assada ao sol no quintal de seu Domingos espera a condução que nunca chega, nunca atravessa o sertão. O cascalho, a lama velha, a mulher caduca que ao mastigar os próprios dentes insiste como uma demente em contar a mesma história de boi, e de cavaleiro, e de coronéis e de velhos parceiros.
A escola está lá e eu aqui. O sertão de Sergipe é terra de gado, é terra boa, e de gente boa, contudo, falta quase tudo. O gado, a gente, o esterco e o cascalho todo mundo tira pose para retrato de turista. Quem sabe sobre algum retalho de pano limpo para limpar o suor de teu rosto. Quem sabe quem passa diga diferente, ou que aqui, realmente, tem gente. Quem sabe se aparte o gado das pessoas e se retire o arame farpado que segura a consciência antiga sempre dentro do mesmo pasto. O quem sabe não é luz; é quimera bandida, é mulher perversa, é uma criança traquina. O quem sabe é um esquina escura onde tua mão nada segura, exceto, um pedaço de papel.
Luz! O sertão precisa de luz! A escola está bem ali; é só a condução chegar lá; é só o livro chegar, e com ele um bom pedaço de pão francês. Mas, o barro pisado, a lama amolecida, as rodas atoladas, as molas desgastadas, e os homens cansados de esperar nunca alcançam o que seus olhos não conseguem enxergar.
Eis que uma cobra rasgou o massapê até o outro pasto!





terça-feira, 1 de maio de 2018

EU NEM SEI ONDE.

EU NEM SEI ONDE
Parece que dizemos de nós mesmos o que não sabemos. É como sair de casa e não sabermos se voltamos ou não. As incertezas povoam nossas mentes assim como as estradas estão cheias de gente. Parece que ir a algum lugar é um deslocamento de massa na matéria que também é massa. Parece que a massa age sobre si mesma; as duas coisas se tornam uma no cenário exposto nas coordenadas do tempo. O tempo que eu não sei ao certo.
Parece que não sou sendo eu mesmo alguma coisa ou alguma inteligência no meio de tudo isso que eu quase nada sei dizer. Na verdade, as minhas verdades são, apenas, hipóteses que eu ouvi alguém dizer em algum lugar. Contudo, eu digo, orgulhosamente, que eu sou o dono de meu destino e de minhas escolhas. Na verdade, sem dúvidas alguma, eu sou, eu sou rei.

Agora, eu digo, a manhã eu me calo e depois de a amanhã eu digo, novamente, as mesmas coisas que eu sempre digo pois sou um viciado nas palavras. Eu estou, definitivamente, certo em tudo que eu digo, contudo, no íntimo, eu não tenho certezas de nada.
Mas, ela me cala e me silencia. Mas, ela me encanta, me seduz; e faz-me dizer o que eu nunca disse ou o que eu acho ter nunca dito, desde que as palavras vistam as emoções da alma que se inclina para ti como menina apaixonada. Eu sou um fogo que arde num pira desconhecida
Mas, você é muito mais que carne, muito mais que prazer. Você me faz ver o meu tamanho tão pequeno diante de tanta coisa muito maior do que eu. Sim, essa chama que clama o teu sorriso ou teu abraço, esse laço mais forte que o aço me levam sem embaraço a teus braços seguindo o ritmo do meu coração.

Então, agora, eu grito: Amo-te! Tu me fizestes ver o que eu não sou com a toda a tua doçura. Agora vejo que na terra tem candura. Agora acredito no que sinto e me lanço ao mar como nau segura. Sim, segura de que eu encontrei a face que traz sem algum disfarce a verdade do peito que se aquieta com teu hálito ou, simplesmente, um beijo.

Parece que somos ou estamos sendo. Parece que a individualidade é uma forma de vaidade. Parece que todas as minhas afirmações são questões que faço no silencio calado de meu solitário quarto.

Mas, tu ocupas o meu espaço. Sim, tu és o meu poema, ou, minha trama na estrada até que eu encontre o que eu nem sei se busco. Dizem que busco viver, mas nem sei o que é isso. Sou um iletrado, um espantalho na urbes agitada. Para ser honesto, eu só quero viver.
Mas, tu alteras o compasso de meus passos e o modelo que me inspira se dilui na vastidão dos campos cheios de vagalumes solitários sem luz ou voo. Eu me derreto como graxa velha que nem lubrifica mais. Sou tão solúvel ou volátil como as coisas da terra. Sou uma quimera consciente de meu sonhos e que é este o estado puro de todas as formas que habitam a terra.

Todavia, eu sei que morro. Todavia, eu sei de meu dia ou de minha hora. Todavia, não existe razão que explique tantas questões que faço sobre mim mesmo. Mas, sossego no teu colo. Mas, sossego no teu aposento repleto de retratos de finais de semanas e aniversários. Todavia, a única via possível é continuar vivendo mesmo sem nada saber sobre mais ou menos nada. Portanto, a verdade máxima é você.

É você que me faz ver além da forma. É você que me deforma e me faz entender que esta é a maior ilusão de todas as criaturas do mundo. A metáfora dos minutos, ou o soluço do silêncio, ou a ordem das ruas, ou a fé da comunidade, ou os monumentos das praças são tudo como traças que comem o bom senso. Sim, o meu bom senso! Aquele que guardo dentro de mim e ajuda a ver a diferença na aparência de tudo que se apresenta pra mim. Mas, ele é só meu!

Mas, aqui dentro, e nem sei onde é, eu digo – esse mundo é só meu!
Mas, aqui, nem sei se é dentro mesmo, você é só minha, moça linda, de rosto raro, e olhos de água doce.
Mas, eu continuo duvidando. Crendo, me calando, e falando, ou dizendo o que penso ser. Desde que você não saia de perto; desde que você coma churrasco comigo nos finais de semana. Desde que você seja bacana e me trate como rei. Desde que você seja honesta ao que sentes e ande comigo até ali. Desde que você esteja, aqui, mesmo que eu nem saiba onde...