SOFIA E O MUNDO

Um dia acreditei no mundo também. Depois entendi que esta coisa criada, coisa como qualquer outra coisa, é delírio de todos nós. Somos todos cúmplices da trama mundo. Hoje vi você descer a ladeira até o ponto de ônibus; vi como acreditavas no teu mundo, no teu texto, na tua trama.

Teu mundo é aquele que te contaram, te falaram dele o dia inteiro. Teu mundo é aquele que aprendeste dos outros, na escola ou na praça. Mas teu mundo é um buraco no peito que só você sabe onde vai dar. Ou o teu mundo é de ferro, ou de cobre, ou de madeira, ou de ouro. E tudo junto derretido é só quimera, sonho, delírio ou uma promissória vencida, ou um beijo contido.

Dizem que teu mundo é teu; nada tenho a ver com isso. Contudo, toda vida é compartilhada e todo mundo é o nosso mundo! A miopia da identidade, a certeza da verdade, e o colorido do mundo é tudo conversa de fim de tarde. Eis que vejo um caldeirão de sopa de gente – dizem que todos temos múltiplas faces!

O mundo não existe! A psicose torna severa a estrada dos sem mundo. Todo mundo quer ter um mundo, até, tu! Meu retrato vira gente, meu cão virou retrato, e o mundo todo enquadrado na lente, no foco, na pose, no sorriso x é a materialidade da matéria que se objetiva segundo seus instintos – meu mundo é só meu, e o teu, é teu, mas misturados caminhamos de mãos dadas até que o sol nasça de novo.

Pensei conhecer o mundo e hoje vejo o mundo tão distante quanto os céus. O mundo é santo e profano. Tão estranho quanto meus sonhos nas noites de luas cheias.
Que o mundo é sonho é fato, que o mundo é matéria também é fato, no entanto, duvidamos de um, e do outro.

O mundo tem estradas ou as mesmas tem seu mundo, cada uma numa direção firme convicta que o destino é certo. Não há nada certo no mundo exceto o sorriso de Sofia. Sofia sorriu com o mundo deitado na cama todo esparramado quieto como um amanhecer de sábado. Todos iam e vinham e o mundo estava parado. O mundo e as estradas falam de si e aquele que for verdadeiro ouvirá suas queixas.