sexta-feira, 4 de maio de 2018

LUZ

LUZ
Entre eu e a escola onde trabalho existe uma estrada de barro e cascalho. No inverno, ela é lama café com leite, e no verão, pedra quente, coisa nervosa; coisa, por vezes, trevosa.
Longos anos no sertão, lugar de barro, lugar de pedra sedimentar, ou de rocha metamórfica. Lugar de estradas desertas, lugar sem lugar algum; só um campo, ali, onde os homens disputam o chão. Para quem chega, lugar de novidade, para quem já estar, lugar, mais uma vez, sem lugar algum.
Dizem que o sertão tem muito terreno, tem lugar para todo mundo. Dizem ser o sertão um lugar como o coração de mãe. Mas, as estradas do sertão não te levam muito longe mesmo que a tua viagem seja muito comprida. Pois, aqui, tem lama, tem o velho cascalho ou um jogo de baralho no bar de Zé Ramos por não ter o que fazer.
O sertão morre no verão e renasce no inverno e nos entrementes lutam as mentes pelo idoso e novo pão. Sim, isto faz todo sentido! É luz que brilha como a lua numa bela e barulhenta quadrilha de São João.
Mas, a escola, a criançada como carne assada ao sol no quintal de seu Domingos espera a condução que nunca chega, nunca atravessa o sertão. O cascalho, a lama velha, a mulher caduca que ao mastigar os próprios dentes insiste como uma demente em contar a mesma história de boi, e de cavaleiro, e de coronéis e de velhos parceiros.
A escola está lá e eu aqui. O sertão de Sergipe é terra de gado, é terra boa, e de gente boa, contudo, falta quase tudo. O gado, a gente, o esterco e o cascalho todo mundo tira pose para retrato de turista. Quem sabe sobre algum retalho de pano limpo para limpar o suor de teu rosto. Quem sabe quem passa diga diferente, ou que aqui, realmente, tem gente. Quem sabe se aparte o gado das pessoas e se retire o arame farpado que segura a consciência antiga sempre dentro do mesmo pasto. O quem sabe não é luz; é quimera bandida, é mulher perversa, é uma criança traquina. O quem sabe é um esquina escura onde tua mão nada segura, exceto, um pedaço de papel.
Luz! O sertão precisa de luz! A escola está bem ali; é só a condução chegar lá; é só o livro chegar, e com ele um bom pedaço de pão francês. Mas, o barro pisado, a lama amolecida, as rodas atoladas, as molas desgastadas, e os homens cansados de esperar nunca alcançam o que seus olhos não conseguem enxergar.
Eis que uma cobra rasgou o massapê até o outro pasto!