terça-feira, 1 de novembro de 2016

VIDA BOA

Tenho feito tantas perguntas; tenho buscado saber o sentido dos homens, pois, eles nascem, crescem, correm e param, mas, não sabem de onde vieram. É sabido que nós seguimos a trilha que foi posta pelos mais velhos, sim, de um jeito ou de outro, fazemos todos nós as mesmas coisas.

Alguns dizem que o Eterno nos fez. Isto eu não questiono; na ausência de sentido, nada faz sentido, além do mais, vejo que a quimera ou a ilusão de ser, ou de um quem-dera é o canto dos mártires quando a tarde declina.

A aurora da manhã é minha amiga trapaceira; ela é a esperança do que não é, ou do que pode ser, ou, na pior das hipóteses, um dia triste debaixo do viaduto.
Ela é o marco inaugural de um novo cansado dia, ou de um dia, simplesmente, novo. É a feiticeira que engana a todos com seus oráculos iluminados pelos os primeiros raios de um sol tropical. Este é o sol que vacila na imensidão de um espaço que eu não conheço.

Saber ou não saber o que será é dor e alegria para um ébrio que foge do dia e ama a noite como eu. A noite em que os vampiros saem de sua tocas, e as serpentes de suas locas até que novamente o mesmo evento se repita aqui e ali. Por isso dizem que tudo se desfaz como as rochas se desmancham com o vento.

Ah, que vida boa de ser vivida!
Ah, que mundo tão explícito!
Ah, que razão tão racional!

Nosso animal, essa besta nossa e vossa, anda solto travestido de gente granfina, ou de gente plebe que pede o pão em toda e qualquer esquina de nossas cidades de novas e velhas idades e cruel rotina.

Os objetos e os homens executam a marcha marcial da existência. Todos dizem: “Eu existo”. Ontem, vi uma caixa de fósforos a conversar com uma senhora de palha na televisão. As coisas e as pessoas se tornaram a mesma coisa e ambos são sucatas de um ferro velho no final do mês. Elas tentam romper a resistência das horas, dos dias, dos anos, no entanto, no final de mais um dia, tudo se dilui no solvente do tempo.

Olhei a vitrine de uma loja que ficava na Rua José Olímpio; nela vi o rosto de um menino até que seus vidros frios e esmigalhados por uma pedra caduca desmanchassem meu delírio. Cada estilhaço espalhado na calçada de cimento e aço refletiu meus traços, minhas rugas, minha decrepitude.

Sou mais um na imensa multidão de ninguéns; sim, no mundo das massas, nisso que chamamos de comunidade, ou sociedade, nada é um; tudo é todos e ninguém.
Oh, que vida boa!
Oh, que orgasmo existencial!

Melhor é viver com as raparigas de que com a mulher escolhida, disse seu Erogildo.
Disso eu não sei. Na verdade, nada sei, pois, tudo que digo é uma canção já cantada no bar de dona Firmina . Não há originalidade em mim. Nem identidade em ti.



Contudo, a vida é tudo o que me interessa.
A vida, com pressa ou sem pressa, deve seguir seu destino.
A vida, mesmo sem acessórios, ou sem mimos, ou sem muita história narrada, deve seguir seu curso com ou sem um porto seguro.

A vida é um sonho que não entendo, todavia, insisto nele.
Seja sofrida devido à lida;
Seja a pura labuta, triste ventura do terceiro mundo;
Seja abundancia que enche a pança;
Seja a tristeza de uma noite sem nada pra fazer;
Seja o adeus de teu amigo ou de teu filho ou filha que deixastes no jazigo abrigo.
Seja como for, viver é o que conta!

Se tu me disseres o contrário, não te pagarei salário.
Se tu fizeres da vida uma despedida não serás meu amigo;
Serás apenas uma mordida de um cão raivoso.
E se tu decidires viver, mesmo de qualquer forma, então, juntos diremos: “Que vida boa”, não importa o minuto, ou o segundo, viver é preciso malgrado o mundo, ou a espada da morte…

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