segunda-feira, 21 de novembro de 2016

NÃO

Não...

Dentro de mim as entranhas se revolvem,
O coração calado sente o silêncio d'alma que insisti em dizer não.
O não que ergue o cadáver inerte daquele que antes crera na menina de Campos.
O não que sepulta a labuta dos apaixonados sem paixão.
O não que nega o amor sincero, um dito vero, uma história verdadeira.
Um não simplesmente afirmativo da vida.

Ah, se eu pudesse tornaria o tempo em imagem congelada e com um pincel faria nele a forma que quisesse!
Ah, como é bom ser Deus!
Como é confortável!

Perdoar, certa feita foi impossível!
Ela disse "não" milhares de vezes.
Ela disse que sem mim a vida bastaria.
E eu virei um quadro solitário na casa abandonada sem ninguém.
A casa das sombras, dos pesadelos, das imagens noturnas e dos sussurros na madrugada.

As dores nos ossos e juntas, as frias noitinhas logo depois das bucólicas tardinhas e a voz que me dizia: "Está me evitando?" me surge na vista como um precipício no fim da pista.
- Todo mundo se queixa do outro!
- Todo mundo é o outro e o outro é todo mundo!
Mas, o não é só meu.

O não que me trouxe para serra onde as águas correm calmas.
O não que me diz sim a vida novamente.
É preciso dizer não, diz o poeta.
É preciso dizer o não a tudo que na essência já era não.
O não era do amor que se diluiu no tempo.
Ah, coitado dos desatentos!
Amaram e se esqueceram da rotina das horas.

- Minha pombinha foi embora!
- Meu gato se foi!
- Como é dura a vida de quem perdeu a batalha do coração!

Eu chorei por ti trezentas noites.
As lágrimas me eram açoites, e a esperança de te ver uma peça fria de necrotério.
Ao sair levaste a chave da casa e fiquei preso nela.
Tentei pular a janela dizendo-te: “O novo é possível”.
Mas, minha voz se tornou uma velha resmungona.
E nossa vida um domingo na escola dominical.
E, tua voz aos meus ouvidos, na quietude da noite ou na pia de pratos era uma sanfona mal tocada como fundo musical.

- Não! É isto e pronto!
- Eu digo não!

Disseste não a vida toda.
Fizeste o não ladeira abaixo.
Subiste o morro com o não nas costas.
O não foi sempre um maldito não!

Não me perguntes mais o porquê do não.
Não tenho respostas, exceto, a vontade de viver.
Sim, é um não para um sim a vida.
Então, não...









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