domingo, 30 de outubro de 2016

A SÍNTESE

A SÍNTESE POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE

Não foi eu quem fez o mundo; eu, mal consigo terminar meu dia. Minhas forças carregam meus fardos ladeira acima ou abaixo, pois, o destino dos meus passos é feito pelas escolhas de meus olhos. Olhos que não se cansam de ver; Olhos que se enganam com as miragens da alma; Olhos que brilham com o prazer; Olhos que se fecham quando há dor; Olhos que se escondem nos cantos das órbitas oculares, olhos que são uma metáfora. Sou uma alma que grita, chora, rir, celebra; se encanta, se atormenta, se espanta, se quebranta; Alma que crer, e descrer; alma que é alguma coisa só minha mesmo sendo uma comunidade de sujeitos. Eu, que me sinto alma vivente agradeço ao divino o dom de não ser. Não sou nada além de mim, e tudo que sou é alguma coisa tentando, desesperadamente, ser qualquer coisa. Ser o sentido do vento; Ser o sentido do tempo; Ser a poesia declamada, que afaga alma do mundo. Ser o não-ser, ser a constante crise de ser não sendo, e não ser sendo quase alguma coisa na terra. A terra que separa as almas, A terra que as junta em abraços de afeto, ou as distancia pelas intrigas do dia. A terra que brota vida, A terra que é morte, e a morte é a minha última sorte. Ai de mim se eu não viver vida. Ai de mim se eu esquecer da vida. Ai de mim se eu não amar a mim mesmo, mesmo odiando-me por não ser o ser ideal. Vi um homem que criou para si um homem melhor do que ele. Soprou em suas ventas sete sopros de vida. Depois, o moço criador sentou-se para aguardar. A terra rodou, rodou, e seu boneco ficou tonto. Parecia um bêbado com mãos trêmulas solto no mundo. O homem caminhou o que pode; A ideia de nada adiantou, Todos são o que são ou pensam que são, pois, o não ser é mais sincero que o ser ideal. Entre a ideia e a pedra, reina a pedra. Entre a pedra e a alma, reina a alma; Entre a ideia e a alma, reina a ideia. Eu sou uma alma cheia de ideias, Sou uma caixa de surpresas, Sou uma víbora dentro de uma gaveta. Sou um pingo de nada na imensidão do tudo. O tudo que não é meu e nem teu. Não foi eu quem fez o mundo; Nem o mundo me fez. Sigo minha trilha sem saber onde vou; sem saber onde parar. Não há possibilidades de negociar com as fatalidades, O acaso é um absurdo, porém, é tão duro quanto a rocha. A rocha que fere a carne, a carne que a terra come. A terra come os homens, os homens comem da terra. Não foi eu quem fez isso! Sou apenas alguém que quase sempre está errado sobre tudo. E quando acerto alguma coisa, logo, percebo que o que disse já foi dito por outro antes de mim. Assim, o meu dizer é de todos e os deles é meu também. Viva o mundo! Viva a saga chamada vida! Viva enquanto podes, pois, mais tarde quer queiras ou não será apenas uma peça de necrotério. Essa é tua benção mais sincera, Essa é tua hora derradeira; Esse é o verdadeiro sentido de tudo, a tua síntese, o depurar de tuas horas. Não te apresses, quer queira ou não tu vais embora....

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