quarta-feira, 26 de julho de 2017

AQUELA CASA


Da casa onde morei não tenho retrato.
Não me recordo da cor da pintura de sua estrutura.
Nem me lembro de seus metros quadrados ou de quantos tijolos usados.
Mas do mamoeiro, ou da goiabeira não preciso que ninguém me diga.
Pois, destas coisas minha mente não se fadiga.
Eu era um menino a experimentar o corpo e a mente no espaço e no tempo da casa da Rua Francisco Holanda. Eu era uma criança que crescia nos areais da Aldeota. Eu era o começo de mim mesmo a traçar um destino, um rumo, um tino que me fizesse crer que as coisas são as mesmas coisas em que meus pais acreditaram.
Da casa da Francisco Holanda ainda ouço as risadas na calçada; a alegria da meninada, e o meu soluço no quarto dos fundos quando a noite cai no quarto de meus pais. Ali, eu encontrei os mais velhos, mais sábios, menos sonhadores cujos corações entre risos e dores buscavam a razão no mar de questões; um cheque mate sem rei, somente peões.
Foi na Francisco Holanda que vi o céu azul e senti o chão frio na área do quintal de minha casa. Eu era um pássaro a voar sem pouso definido. Sem plano estabelecido; sem medo do infinito.
Eu abria os braços e o oceano azul celeste era o espaço onde meu corpo e mente vestiam suas novas vestes.
Deitado com os olhos para o alto voltados, escutava eu a voz de meus amados. Os dois, cada um no seu lado; uma certeza intranquila; um rio sem correnteza.
Na área da frente onde se recebe os visitantes estava o ser infantil a indagar do mundo. Uma pedra gelada na cadeira sentada discorria sobre o nada com voz de parente. Seus olhos congelados e sua mente descontente não saiam do transe desalmado – “Sai daqui menino!”
Em seguida sua imagem se desmanchava em frente à televisão.
Aquele ser materno; meu colo, meu amor eterno ainda não via que a vida tem seu dia; ou que os homens mudam como o camaleão.
Meu pai chegava às seis trazendo religiosamente o sagrado pão.
Seus pés entravam em casa vacilantes; suas mãos pálidas diziam de mais uma batalha vencida, contudo, as dores nos pés e nas costas não escondiam de minha mãe o cheiro da moça, mas isso não é tudo. Aquele homem, o homem de minha vida não era um carrancudo!
Da casa da Francisco Holanda me lembro com prazer. Recordo me de minhas irmãs jogando voleibol; dos amigos de meus pais na mesa de pôquer, da cachorra malta a latir de alegria fosse de noite ou de dia. E muito mais, quando o dia era de paz. Aquela casa, a casa da Francisco Holanda não passou. A vejo aqui e acolá. Parece que ela mexe com a gente, e parece que o tempo é um corvo velho e experiente.
Eis que vejo tudo de novo...



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