quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A CADEIRA

Há uma cadeira de madeira na sala vazia.
Há uma sala vazia em um prédio também vazio.
Tudo se foi.
Todos se foram.
Ficaram as salas.
Ficou o prédio.
E a cadeira sem função ainda está em uma sala vazia entre outras também vazias.
Ouço conversas nos corredores.
A administração pública é uma vergonha!
O gasto é um desperdício.
O desperdício é um grande gasto.
Quem está na cadeira?
O cargo será indicado.
Ouço um barulho que vem de fora.
Ouço o choro de quem se foi.
Tudo se desfaz com a força das horas, com a insistência do tempo.
Há uma sociedade de cadeiras esquecidas.
Há um povo sem passado.
O moço entrou e se sentou na cadeira da sala vazia.
O prédio tremeu como coração de mulher quando vê o filho viajante.
- Doutor Adalberto!
- Sim!
- Tem uns moços aí querendo saber como será...
- Favor mande-os entrar!
- Pronto!
A sala estava cheia de gente importante.
O Estado deve cumprir sua função social e normativa.
O Estado é regulador; é criador de regras.
O povo deve seguir o modelo para que haja ordem social.
Mas, a pobreza supera as expectativas e a capacidade de controle do Estado.
Não há democracia onde há pobreza!
Os vidros foram quebrados naquele momento, as janelas foram atingidas por rajadas de metralhadora.
Adalberto fugiu com Gustavo.
Um por um, cada um, cidadão ou não, evaporaram das salas.
Sobrou uma cadeira.
Em um prédio vazio.
Em um Estado vazio.
Em um país vazio.
Era só uma cadeira de madeira...

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